terça-feira, 10 de maio de 2011

OS 8 ESTÁDIOS DE DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DE ERIKSON E O DESENVOLVIMENTO PRECOCE DE JOVENS ATLETAS DE ALTO RENDIMENTO


Temos vindo a observar, nos últimos anos, um aumento considerável do número de crianças envolvidas no processo de “treino precoce”, em busca de resultados imediatos.

No entanto, a sua participação na prática desportiva não pode deixar de se regular por objectivos de ordem educativa e formativa que contribuam para o desenvolvimento físico, motor, social e emocional e em que se promova também a aquisição dos valores e comportamentos característicos do “saber ser” (auto-estima, auto-controlo, perseverança e humildade) e do “saber-estar” (civismo, companheirismo, respeito mútuo, lealdade).
A sensibilidade para perceber que o ser humano é complexo e se depara com um crescimento constante e evolutivo traduz-se num passo de inteligência que alia ao conhecimento ao sucesso. É por isso importante que se ganhe alguma sensibilização para conhecimento psicológico das crianças e jovens, de forma a optimizarmos o seu potencial.
No seu trabalho mais conhecido, Erikson propõe 8 estádios do desenvolvimento psicossocial através dos quais um ser humano em desenvolvimento saudável deveria passar da infância para a idade adulta. Em cada estádio cada sujeito confronta-se, e de preferência supera, novos desafios ou conflitos. Cada estádio/ fase do desenvolvimento da criança é importante e deve ser bem resolvida para que a próxima fase possa ser superada sem problemas.
Tal como Piaget concluiu que não se deve apressar o desenvolvimento das crianças, que se deve dar o tempo necessário a cada fase de desenvolvimento, pois cada uma delas é muito importante. Sublinhou que apressar o desenvolvimento pode ter consequências emocionais e minar as competências das crianças para a sua vida futura.  
Assim, tanto a actividade física como o desporto podem ter efeitos positivos e negativos no seu desenvolvimento.
Segundo os membros da Federation Internationale de Medecine Sportive (1997) “o desporto de competição proporciona um desenvolvimento físico, emocional e intelectual da criança e do adolescente, e pode desenvolver a auto-confiança e o comportamento social.”
No entanto, o treino intensificado com o objectivo de atingir um desempenho de alto nível não tem justificativa fisiológica ou educacional, pelo contrário, leva frequentemente a um stress físico e mental durante o treino e competição.
Segundo Erikson, durante o terceiro estágio – iniciativa/culpa – (aproximadamente entre os 3 e 6 anos) a criança tem uma preocupação com a aceitabilidade dos seus comportamentos, desenvolve capacidades motoras, de linguagem, pensamento, imaginação e curiosidade. A questão chave é “Serei bom ou mau?”
Por outro lado, no quarto estágio – indústria/inferioridade – que decorre na idade escolar antes da adolescência (6 - 12 anos), a criança percebe-se como pessoa trabalhadora, capaz de produzir, sente-se competente. Neste estágio, a resolução positiva dos anteriores tem especial relevância: sem confiança, autonomia e iniciativa, a criança não poderá afirmar-se nem sentir-se capaz. O sentimento de inferioridade pode levar a bloqueios cognitivos, descrença quanto às suas capacidades e a atitudes regressivas: a criança deverá conseguir sentir-se integrada, uma vez que este é um momento de novos relacionamentos interpessoais importantes. A questão chave é “Serei competente ou incompetente?”
De facto, raramente o impacto da competição é neutro em jovens participantes ou atletas adultos, passando por um estado de alegria ou depressão como resultado das suas actividades desportivas.
Crianças com idade inferior a 10 anos não têm capacidade de reconhecer que os resultados desportivos dependem tanto das suas capacidades como do seu esforço. Quando o sucesso desportivo e auto-avaliação ficam dependentes da vitória ou derrota, muitos atletas podem desenvolver baixa auto-estima.
Para concluir, lembramos que a criança não é um adulto (atleta) em miniatura e que o treinador ou professor além de sua tarefa técnica, também deve ter responsabilidade pedagógica com o futuro - principalmente do jovem a ele confiado. Para uma correcta evolução dos mais novos no desporto, há que respeitar várias etapas de formação e sobretudo não esquecer que o sucesso deve ser encarado como a capacidade para encarar os próprios limites e não os resultados dos outros.

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